8 de agosto de 2011

O dia do novo.



O dia do novo poderia ser todo dia. Feito assim, de sopetão, sem grandes planos ou conjecturas. Há um dia em que os cílios se afastam e então sabemos que aquele é o dia do novo. Sinto por aqueles que nunca experimentaram um dia desses, eu já tive a oportunidade de ter um desses várias vezes, e posso dizer que um dia é o que alguém precisa para mudar uma vida inteira.
Acho que consigo sentir quando um dia desses se aproxima... É quando uma rotina viscosa se acumula sobre as nossas coisas, sobre a nossa pele. Um cheiro de mofo e madeira velha parece se estabelecer dentro das narinas, um gosto de pão velho fica revolvendo nas paredes da boca sem nenhuma explicação. O brilho foge dos olhos e uma cegueira seletiva nos impede de ver brilho nos olhos alheios também. Os dias são todos iguais, e tornamo-nos incapazes de rememorar a semana anterior. Ela será pateticamente esquecível.
Tenho um certo inconformismo inato em aceitar que muito mais de 80% da minha vida cairá no precipício escuro do esquecimento. Lutarei contra isso infinitamente, ainda que seja uma guerra perdida desde o princípio.
O dia do novo não é feliz, colorido ou necessariamente harmonioso. Ninguém disse que o novo chegará de mansinho, distribuindo beijinhos e abraços. Na maioria das vezes, muito pelo contrário, ele terá tanta sutileza quanto um búfalo feroz e faminto.
Sejamos doces com ele, apesar de sua brutalidade, porque esse novo é precisamente a chama viva que mantém a esperança de talvez, um dia, chegarmos a um lugar mais humano do que esse que ocupamos. É o dia em que o Universo te empurra para aquela decisão postergada, o investimento arriscado, a ideia ousada por muitos considerada insensata. É o dia em que você terá que bancar as suas próprias escolhas, não importa o quanto você tenha medo delas.