22 de maio de 2012

Adolescer (ou A dor de ser)




Os cabelos meio desgrenhados, numa dúvida se presos ou soltos. A impaciência que reflete a pressa de quem não sabe muito bem sobre o amanhã.
A maquiagem feita pela metade, que mamãe odeia, mas que é ao mesmo tempo igual a que ela usa. Mas isso não é coisa que se diga.
Os dedos das mãos sujos de caneta, os recadinhos dos amigos que marcam a pele e ajudam a fazer essa solidão errante não entrar pela pele.
A roupa não encaixa mais no corpo. Algo sobra, algo falta. Parece um pouco com esse sentimento aqui dentro, algo que às vezes as músicas que ouço preenchem, e que também escapa de mim quando bato portas. Aumento o volume, e assim aquieto meu turbilhão incessante.
Qualquer coisa, menos todos os outros. Menos aquilo que já existe. Menos aquilo que já conheci. Qualquer coisa, desde que seja nada disso.
Esse novo amigo estranho, o desejo. Sujeito estranho, parece que veio para ficar, e não sei muito bem onde fica o quarto para hospedá-lo.
Casaco de gorro, mãos nos bolsos. Amores de verão e todas as outras estações.
Um sono sem fim, cansaço dessa difícil missão de tornar-se. Correr às cegas, num labirinto de espinhos e labaredas.
Meu nome guardado nas carteiras da escola, só para ter certeza que eu deixo marcas. O espelho mostra um rosto desconhecido.
Sorriso tímido de canto de boca, como quem não tem muita certeza se deve. Revistas que ensinam a beijar.
Uma bomba relógio no último segundo bem no meio do peito. Hora é paixão, hora é medo.
E a vontade louca de saber se o fim do mundo é mesmo na linha do horizonte.