7 de dezembro de 2009

Hoje nasceu um botão

Hoje, uma segunda-feira que não se decidia entre a chuva e a neblina, todos os raios de sol estavam guardados em meu coração.
Inesperadamente, hoje nasceu uma flor. Uma rosa que será branca, rosa, vermelha, multicor. Um pequeno botão, sensível e inacreditavelmente lindo.
Hoje nasceu uma flor, é o que lhes digo. E ainda não sei como ela será: ainda é apenas um botão. Mas é uma flor que, desde seus primeiros minutos, me encanta. Rouba meus olhos, leva um calor suave para minhas pálpebras.
É por essa flor que estive buscando até hoje. Eu não saberia que a encontraria assim, tão linda, tão cheia de vida, ainda em forma de bebê.
Alimenta-se em um solo firme, fértil, de onde muitas outras belas flores já surgiram, e hoje abrem-se abrilhantando milhares de olhos.
Essa pequena flor que surge ainda é pequena, mas quer ser forte e linda. Não sabe ainda como e quantos serão seus espinhos, quando virão os dias de tempestade e os dias de sol, não sabe qual será exatamente seu formato. Mas, ainda assim, em sua delicadeza de filhote, ela já é encantadora. E promete ser fonte de beleza a cada pétala que se revele, a cada folha que se desdobre.
Essa flor nasceu hoje, e eu tenho a feliz tarefa de eternizá-la.

Foi hoje que eu aprendi a fazer poesias.


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Em comemoração à minha primeira aula ministrada para minha primeira turma de prática do Método DeRose.

23 de novembro de 2009

Nuvens

Nem todo sentimento
é azul.

E quando mares sobem
aos cílios,
as cores se confundem.


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Encontrei esse texto no meio de vários outros, perdido. Eu não sei de quando ele é, e nem sei no que extamente eu estava pensando quando o escrevi. Mas, ainda assim, hoje ele me tocou.

20 de setembro de 2009

De repente

E, numa tarde qualquer de primavera, em um dia que pedia para ser infinito, uma lágrima rolou dos meus olhos e eu tive certeza. Pela primeira vez olhei para mim.

Foi naquele dia, há mais ou menos um ano atrás, que eu tive certeza.

A partir daquele dia nada mais foi difícil. E mesmo os mais altos e duros obstáculos, atravesso-os com um sorriso nos lábios, porque passei por aquele dia.

Aquele dia em que tive certeza. Aquele dia em que uma música tocava, e eu tomava uma decisão: quem eu queria ser dali pra frente.
E lá eu soube exatamente o que eu precisava para ser feliz, e de antemão decidi qual era o próximo passo.

Foi naquele dia em que a neblina da dúvida saiu da frente dos meus olhos, e eu vi.
Eu vi de verdade, tão plena e nitidamente, o que sempre estivera bem na minha frente.

Hoje em dia corro atrás de um sonho. Compartilhado por alguns, incompreensível para outros. Mas não importa o que digam ou vejam, porque só eu vi.

Naquela tarde de primavera que pedia para ser infinita, tudo ficou tão claro. De repente.

14 de setembro de 2009

Tango

Desenho meu eu. Minhas mãos já não tão trêmulas quanto antes esboçam seus primeiros rascunhos.
Às vezes, um ou outro rabisco certeiro.
Desenho a lápis. Não lido bem com a irreversibilidade da caneta tinteiro.
Também uso cores. Cores que rasgam o papel, encantam os olhos, brilham, convidam para um baile silencioso! Embora o preto e o branco, o tudo e o nada, digam muito sobre quem sou.
Pensando bem, talvez nem tanto.
A aparente simplicidade do enlaçar do risco preto no puro branco papel apenas facilitem as coisas... por alguns momentos.
Reescrevo meu passado, futuro e presente incansavelmente, faço um desenho da minha alma. Traço o rosto que quero ter. E ele está em constante revolução!
Meu sorriso ganha mais razões, minhas palavras significados.
Os segundos tornam-se curtos ou extensos: alongam-se ao infinito, quebram a velocidade da luz. O tempo e o mundo dentro das minhas pupilas transformam-se naquilo que eu sou: dançam um tango comigo.
Rabisco minhas verdades, desenho meu rosto, danço meu tango.
E o que é a vida senão uma dança de salão nunca ensaiada?

6 de agosto de 2009

Beber, cair e levantar.

Às vezes as pessoas me perguntam por que eu tomei essa decisão tão radical na minha vida de não beber nenhum tipo de bebida alcóolica.
Bem, pra começar eu já não gosto muito dessa pergunta, porque com certeza eu não perguntaria a ninguém por que, então, beber.

Mas deve soar mais estranho do que eu imagino conhecer uma jovem de 21 anos, que estuda na USP e em pleno século XXI tomou a decisão de não ingerir uma gota de alcóol. Provavelmente, isso deve fazer com que as pessoas pensem que elas têm permissão de questionar minhas escolhas. E, ainda, me julgar a partir delas.

De qualquer forma, elas me fizeram um bem. De tanto perguntarem, ou de me olharem como se eu fosse de outro planeta, comecei a pensar muito sobre o tema, e cheguei a algumas conclusões que fazem muito sentido para mim.

Antes de mais nada, acho imensamente triste que as pessoas não consigam fazer-se felizes de outra forma que não sendo elas mesmas. A verdade é que as pessoas sabem do que elas precisam para ficar alegres: elas sabem como elas querem dançar, quem elas querem beijar, sobre o que elas querem falar. Mas elas simplesmente não conseguem dançar, beijar e falar livremente, porque estão amarradas em uma série de rótulos sociais dos quais não conseguem se desvencilhar de forma alguma. Estão o tempo todo preocupadas com o que os outros vão pensar, como irão parecer, com a imagem que vão construir.E a única saída que encontram para isso é colocando-se um novo rótulo: "Ah, ele(a) está bêbado!", e com isso ganham o aval para, por alguns minutos, ser quem elas sempre quiseram ser. E todos "desculpam" porque, afinal, ele(a) está alegrinho!

Seja isso bom ou ruim, eu acho que eu nunca tive grandes dificuldades para fazer o que eu tinha vontade de fazer sendo eu mesma. Dancei, passei vergonha, tive conversas filosóficas absurdas, falei que amava todo mundo, me declarei, gargalhei... E, hoje, diversas vezes escuto que quem não bebe "esconde" algo.

Sinto muito, meus amigos, mas no meu pensamento é exatamente o contrário: quem bebe é que só consegue ser feliz dessa forma. Pouco ou muito, ele precisa de um empurrãozinho para ser livre.

É muito triste que para nos livrar das máscaras sociais que vestimos, tenhamos que abrir mão da nossa possibilidade de fazer escolhas e relembrar os bons momentos. Tenhamos que abrir mão da lucidez que nos faz perceber tudo, completamente, e vivenciar todos os momentos utilizando cada sutileza dos sentidos do nosso organismo. Tenhamos, além de tudo, que deixar de lado o bem estar do nosso corpo e da nossa saúde a longo prazo, que na minha concepção são a única coisa verdadeiramente sagrada.

Para mim, alcóol é uma droga como qualquer outra, mesmo as ilegais. Aí alguém me diz: "Mas é bem mais fraco!". E eu digo que, mesmo que fosse mais fraco, as pessoas compensam na frequência e no tamanho das doses...

Talvez isso pareça um pouco antipático para alguns, ou tavez para todos (ou quase ). Ao postar esse texto, não pretendo soar a velha chata, e nem dizer que não estarei ao lado de quem bebe, nem que julgo todos aqueles que bebem.
Liberdade é minha filosofia de vida.
Isso é o certo para mim e, por isso mesmo, tenho certeza que não será o certo para todos.

Esse texto é apenas um desabafo de alguém que cansou de ser "freak" só por causa de uma escolha.

12 de julho de 2009

Família

Quando falo do passado da minha família, não tenho modéstia nenhuma ao dizer que a história que me precede é uma das mais lindas que já conheci.

Minha família é, basicamente, uma família de mulheres. Mulheres que, em sua maioria, compartilham do mesmo nome: Luiza.
E as que não compartilham desse nome, acabam adotando também esse jeito 'Luiza' de ser.

Sou cercada por Luizas. E esse nome pode não significar para o leitor o mesmo que significa para mim. Mas as Luizas que conheço são tão fortes e sensíveis quanto é essa palavra.

Sempre tão Luiza.
Ela, sempre tantas!
Mulher singular,
mulher plural.
É única,
e ao mesmo tempo é muitas.
Luiza,
as mulheres da minha vida.

Luiza é anjo,
embora seja ótima como fera.
E mesmo que ela insista
em ser tempestade,
Luiza também é linda
quando é só brisa.

Ela fincou as garras na vida
e com a mesma gana
cravou-as nos corações desavisados.
Não que suas marcas não doam
(muito pelo contrário),
mas Luiza tem a palma
e o colo de algodão.
E com a mesma força que fere
instala-se no eterno das almas.
E ali fica.
Porque Luiza quando ama,
é inteira feita de amor.

Luiza.
Um nome que não diz
sobre quem elas são,
e nem é de todas elas.
Mulheres contrárias e complementares
que me deram o mundo.

O que há de Luiza em mim
é tesouro.
Porque sei que um dia terei asas,
talvez garras...
e poderei ser como elas.
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Palavras dedicadas às Luizas da minha vida: minha avó, minha mãe e minhas três tias.

12 de junho de 2009

Namorandinho...

O vento balança os cabelos.
Os fios dos meus cabelos enlaçam o rosto dele. Suavemente, com a ponta dos dedos, ele afasta-os para alcançar meus lábios.
Toca suas mãos na minha cintura. De repente elas me tomam, e nós já estamos num abraço.
A pele da minha face descansa sobre o peito dele, e eu sinto as batidas de seu coração. São tão suaves...
Meus olhos estão fechados, estou envolta por braços que me aquecem, que me protegem. É só naqueles braços que eu sei exatamente qual é o meu lugar.
Ele me diz algo, que só eu sei que ele disse. Eu respondo, apaixonadamente, quase num sussurro.
Toco o rosto dele também, sentindo cada pedacinho daquela feição que me surpreende a cada olhar. E nos olhamos, assim, atônitos. Como se nunca tivéssemos nos visto antes. Como se nada mais no mundo existisse além daquele encontro.
Os lábios procuram-se espontaneamente, atraem-se mutuamente. A maciez do seu toque faz arrepiar cada milímetro de pele.

E ficamos assim trocando segredos e carinhos por horas, dias, anos.

26 de maio de 2009

Sem tempo

Sou uma engolida.
Uma perdida.
Uma, uma e só uma.
Uma qualquer coisa.

O tempo, que tirano!
Sempre tão inesgotavel,
consegue me engolir,
e me cuspir em seguida.

Eu, uma cuspida.
Uma sobra.
Uma esgotável.

Esgoto-me a cada ruído,
e refaço-me.
Eu,
uma tentativa.

6 de maio de 2009

Ser feliz é simples.

Quem faz não é quem critica.
Quem critica, pura e simplesmente, nunca faz nada.

Quem constrói é quem é a favor de alguma coisa.


Não defendo a impossibilidade de opinar, argumentar, o livre-pensamento.
Defendo o pensamento que provoca ação, a crítica que gera resultado. Defendo o pensamento como prévio à atitude; e não como crítico insatisfeito de tudo ao redor.

Não aceito o pensamento ranzinza, incapaz de mover uma palha.

5 de abril de 2009

Escultura

Era uma rocha, apenas. Apresentava-se como quem ainda era uma parte, e não um todo: ela ainda não sabia ser nada além de uma simples rocha, apenas sentia que era diferente das demais. Mas não sabia explicar o porquê.
Seus traços eram rígidos: eram tão descompromissados que nem chamavam o olhar.
Ela queria ser diferente, e não conformar-se em ser uma simples rocha para sempre, assim como todas as outras. E, pensando nisso, ela nem notou quando o Artista resolveu reclinar-se sobre ela.
Mas foi justamente ele quem a viu de verdade pela primeira vez.
Quando a encarou bem de perto, ele vislumbrou que dentro de toda sua rigidez havia um brilho alaranjado que pulsava. Não teve dúvidas de que aquela rocha merecia seus esforços de artesão.
Ele tinha mãos macias, que arriscaram desenhar sobre a aspereza daquela superfície. Ao invés das mãos se ferirem, foi a rocha quem cedeu: a suavidade daqueles gestos penetrou em cada sulco, e amaciou pequenas imperfeições eclodidas em sua textura. Ele prosseguia acreditando que nada nela era implacável, e ela esforçava-se para que os toques daquele Artista fossem cada vez mais transformadores.
Ele sabia disso, e por isso investiu na beleza bruta que seus poros exalavam. Ele não quis conformar-se com uma pedra fosca, e por isso transformou-a em Arte.
O Artista entregou-a seu tempo, e ela aceitou humildemente. Ele depositou com brandura sobre ela palavras e toques, e ela entregou a ele tudo de mais colorido que havia dentro dela: esmeraldas e raios de sol.
Era fascinante a poesia de seus gestos. As mãos leves e ao mesmo tempo poderosas, cada movimento perfeitamente encadeado, como uma dança ao som da melodia perfeita do Universo.
Paciente como um beija-flor, ele soube entalhar cada detalhe novo àquela textura outrora tão rudimentar. Rodeava-lhe aos poucos, enfeitava seus cantos mais obscuros, refinava-lhe os traços, e suavemente dava a ela a chance de ser um todo, e não apenas mais um pedaço.
Com sabedoria moldava novas curvas, antes inimagináveis àquela tão sólida rocha. Pois que sua dureza não era assim tão incontestável, e agora o Artista respondia com a sua obra àqueles que antes lhe disseram que ele não sabia o que estava fazendo.
Ele entregava-lhe toda técnica e todo seu talento, e ela absorvia-os como uma aprendiz, tornando-se parte dele.
Minuciosamente, foi-se construindo uma nova forma. Ela tornou-se o que havia de melhor dentro dela mesma: lapidando pacientemente a rocha mais bruta, o Artista fez brotar dali uma delicada escultura, que atraía o olhar de todo ser com alma sensível.
E assim, foi ele quem desvelou aos poucos a pulsão viva que estava no âmago de sua obra, e finalmente seu brilho intenso invadiu tudo ao redor.
O Artista sorriu para sua obra, e ela brilhou intensamente para ele. Agora, a luz alaranjada era mais intensa, e aquecia o coração de quem a pudesse ver.
As ondas do mar eternizaram a inédita beleza que o Artista talhou, o sopro do vento deu-lhe vida, e ela aprendeu também a passear pelo mundo transformando rochas tímidas em esculturas exuberantes.

E o mundo nunca mais foi o mesmo...

1 de abril de 2009

Duetos e duelos.

Numa observação panorâmica sobre as coisas, chego à conclusão que tudo se constitui a partir da relação entre, pelo menos, dois elementos.
O som só surge a partir do atrito, que implica em haver dois. O amor pede que existam dois. Não necessariamente dois que amam, basta um amante e um amado. A palavra só surge a partir de dois: quem a fala e quem a ouve. Se ninguém a ouve que seja o papel, então: o escritor e seu papel. O escultor e sua pedra.
Ninguém faz nada por si só, pura e simplesmente. Um homem precisa de alguma outra coisa, de algum outro alguém. As coisas precisam uma das outras para existirem, para serem coisas e construírem-se da forma que são.
É do atrito que se faz a vida, a beleza do existir. Da relação entre as coisas, dos contrastes de cores, dos sons. Os encontros dos campos gravitacionais giram o mundo, e regem a complexa inter-relação entre todos os sistemas e galáxias que ainda desconhecemos.
O movimento só se dá quando há uma dupla, pelo menos. E essa dança dá luz a duetos encantadores, harmonias deliciosas e lindas de se ver. O encontro da seda com a pele, do mar com a areia, de dois lábios que se beijam, do vento com as folhas que desprendem-se das árvores. São duetos que quase bailam, rodopiam sobre nossos corações.
Ora, duelos são igualmente encontros, e tão inevitáveis que penso que já deveríamos estar mais acostumados com eles. O desequilíbrio do duelo é necessário, capaz de transformar qualquer dueto antigo, capaz de gerar novos equilíbrios.
Vivo trocando entre o dueto e o duelo: do dueto tiro a calmaria necessária para aquietar-me diante de tantas ideias que estão nos bastidores de meus escritos, e do duelo vem a força necessária para sustentar essa torrente. Esses dois movimentos são tão necessários quanto são complementares, e entendo que a minha briga eterna com as palavras é um duelo que tem um quê de beleza.
Amo as palavras com a mesma intensidade em que às vezes odeio-as, e vivemos nessa relação sinuosa, instável e apaixonada, que sei que é eterna. Nelas posso encontrar refúgio, posso afogar-me e salvar-me. Ao mesmo tempo, elas podem ser insuficientes e traiçoeiras, fungindo de mim justamente quando mais preciso delas. Da minha luta e com as palavras surgem alguns textos, algumas poesias, algumas crônicas, enfim... coisas que brotam dessa nossa relação que passeia entre o dueto e o duelo constantemente.
Alguns fragmentos dessas coisas filhas de um atrito às vezes gentil, às vezes vendavalesco, estarão aqui, esperando por algum leitor curioso que talvez aprecie um dueto açucarado. E que não se assuste com duelos sangrentos.

27 de março de 2009

Sempre há janelas.

Você acaba de abrir mais uma janela.
Essa, talvez a mais virtual de todas as janelas, mas a que é capaz de abrir paisagens incríveis, e que estão a apenas um clique de distância.

Aqui, um espacinho público para o meu modesto lirismo, para minhas prosas (literárias ou não). E tudo que está aqui, já não é mais meu: é nosso.

Ofereço minhas palavras. Não porque sejam belas, não por vaidade, não por desabafo. Apenas, palavras. Aceite-as como um pedacinho de mim que resolvi libertar pelo mundo.


"Minhas palavras agora caçoam de mim, riem das minhas intenções, constroem-se sozinhas e despem-se, insinuando-se para qualquer um que esteja disposto a contemplá-las. Como perderam seu pudor! Minhas palavras tornaram-se tão maiores do que eu... Elas já nem são mais minhas, são de qualquer um que olhe para elas com a atenção que elas mesmas impõem."
Trecho de um texto antigo.