13 de janeiro de 2011

Poeta, exceção


Gosto de pensar que poeta é uma palavra sem gênero. Pois que uma palavra assim, tão breve e tremendamente linda, transcende a polaridade através da qual conseguimos ler o mundo.
Os limites da nossa espécie, dessa dimensão em que vivemos, nos obrigam a dividir o mundo em dois, positivo e negativo. Se tudo o que É ainda se apresentasse aos nossos olhos em sua forma original, Una, continuaríamos imersos no torpor da inexistência de consciência, e não haveria verbo.
Mas, poeta... Poeta é a palavra que tenta ultrapasssar a própria natureza humana e não ser preto ou branco. Poeta quer subir no farol do morro mais alto da existência, e contar que não há limiares, fronteiras, contrastes.
Poeta é a palavra e o Homem sem gênero. Sem face, sem história, sem um si-mesmo. Poeta é a palavra que não quer ser palavra, que não quer ser apreendida, que não se permite enjaular-se em meia dúzia de regrinhas.
Se afirmo que 'Sou Poeta', digo isso pedindo lincença ao tempo e espaço, e talvez no final corrija-me dizendo: 'Tenho em mim algo que é Poeta', ou 'parte dessa matéria que sou eu é Poeta'.
Peço um momento de silêncio das gramáticas e dicionários, porque poeta é uma palavra sem gênero, é uma palavra que não pode ser classificada e modificada como as demais do nosso vocabulário, já que ela mora na breve perfeição entre o movimento e a inércia.
Poeta é uma condição emprestada, um vislumbre rápido e inebriante daquilo que está além dos meus próprios sentidos e do meu idioma lacunar.
Poeta é um estar, um lampejo que traduz o universo.

2 comentários:

Thiago disse...

Belo texto Alê!

Um musicólogo canadense, Murray Schafer, uma vez indagou um aluno, pedindo para que ele definisse o que era "poesia". Então o menino respondeu: "Poesia é quando as palavras cantam". Na sua inocência o menino foi muito sábio, pois disse que fazer poesia é justamente buscar com que a palavra possua o conteúdo semântico da música, que é nada além dela mesma.
Nesse ponto, a meu ver, a poesia busca sua perfeição ao tomar emprestado a capacidade referencial da música (instrumental principalmente), essa possibilidade de não dizer nada que tenha significado fora dela, e, ao mesmo tempo, poder dizer tudo que está "além dos próprios sentidos e do meu idioma lacunar".

Grande abraço!

Unknown disse...

Ale,

Adorei seus textos...Você escreve maravilhosamente bem. Textos que nos fazem pensar e que nos fazem querer ler mais e mais.
Amei.
Bjoesss