8 de janeiro de 2013

Um sonho




Todo sonho é assim, feito de três partes: a massa de baixo, o meio cremoso e a massa de cima, num tipo de paraíso convexo. Ficam lindamente alinhados na vitrine da padaria, em todos os tamanhos.  Há os pequenos, que matam aquela vontadinha rápida de doce; os médios, que enchem a boca por quatro ou cinco mordidas e deixam os dedos melados; e os gigantes, que podem ser comidos por apenas um guloso, ou divididos por toda família.
Os melhores são os quentinhos, fresquinhos. A massa crocante por fora e fofa por dentro, o creme de confeiteiro cor amarelo-bebê, o açúcar espalhado em volta. Quando você termina de comer, lambe os lábios e ainda irá senti-los doces.
Um sonho perfeito é até parecido com o sonho mesmo. Aquele que a gente deseja, não o que a gente dorme.
O sonho-sonho também tem três partes: um antes, um durante e um depois. A primeira, a de baixo, é a mais sem graça se comparada às outras três. Mas se você tivesse só ela, acharia meio bom também. Meio bom, e só. 
A do meio, do durante, é a mais macia e doce. É ela que faz o sonho ser um sonho e não bolinho de chuva ou um delírio. E mesmo que você tenha a sorte de saborear muitos e muitos sonhos, é a camada do meio que faz com que você sempre queira mais um. 
Finalmente, a que vem por cima, do depois, faz com o sonho fique completo, fechado, num sanduíche de perfeição que cabe no espaço da memória.
Assim como o doce de padaria, o sonho também tem tamanhos diferentes, e quanto maior ele é, mais difícil é aguentar um sozinho. Precisamos de outros que apreciem junto, senão ficamos estufados com tanto sonho, ou até tristes por termos um sonho inacabado jogado no lixo.
Se o sonho está velho, esquecido, ele endurece e até mofa. Não dá mais tempo de vivê-lo. Ele azeda.
Talvez, os sonhos-doce perfeitos tenham ganhado esse nome porque foram inspirados em sonhos-desejo perfeitos. Aqueles que surgiram de uma bela expectativa, que quando foram realizados eram ainda melhores do que se pensava, e quando acabaram deixaram uma saudade boa. Então, os sonhos bem vividos poderão ainda ser relembrados, porque seu doce infestou beiços, cabeça, coração. E basta um estalar (ou lamber) de dedos, e aqueles momentos açucarados descerão pela garganta outra vez.

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Um texto sobre a realização de um sonho.

2 comentários:

Maíra disse...

Alê, analogias mágicas! Continue realizando e saboreando sonhos! MUITOS! Beijos!

Anônimo disse...

Alê, analogias mágicas! Continue realizando e saboreando sonhos! MUITOS! Beijos! (Maíra)