14 de junho de 2013

Criador de monstros em moinhos de vento





Queria poder escrever algo que, de fato, falasse por mim. Algo que imprimisse no papel o que eu venho tentando há tanto tempo, desde que me lembro escrever.
Eis aqui o paradoxo do escritor: no fundo, ele se sente um homem mal compreendido. E a responsabilidade não é dos outros por portarem algum tipo de incompetência compreensiva, mas do Próprio, pela inabilidade expressiva. 
A minha teoria é de que a minha perseverança incansável na escrita reside justamente na minha incapacidade de falar usando menos. O pouco com o qual todos os felizes não-escreventes se contentam, o pouco que precisa só de duas ou três linhas para contar satisfatoriamente como foi o dia.
O que para mim é miséria, para a maioria é abundância e ponto. Resta-me essa fome às avessas, porque o desejo pela letra é tão voraz quanto o do estômago, mas a diferença é que as palavras não são engolidas, mas precisam deslizar, escapar, e assim são despejadas de dentro mim. Às vezes cuidadosamente, é verdade, numa cautela quase matemática. Mas às vezes é numa única golfada, desmedida e emocionada.
Não importa como se dá esse escape, cada texto escrito é um alívio parcial e temporário para esse esvaziamento persistente que renasce, forte, quando menos se espera.
O escritor é um bandeirante solitário. Desbrava a linguagem, essa floresta enorme e multifacetada e, dentro dela, quer encontrar seu próprio dialeto. Para ele não bastam as trilhas já sistematizadas e as frases já ditas. Ele sente que pode (e deve) dizer algo que somente ele é capaz, e abraça essa tarefa como uma missão. Frequentemente, ele não sabe por onde começar e passa a vida tentando. Sorte de quem o lê.





Um comentário:

Paula Roberta disse...

escreve +, não pare nunca!